domingo, 10 de agosto de 2008

Dia dos Pais: meu vô Giuseppe

Posts atrás falei de meu pai. Hoje quero lembrar meu avô Giuseppe.

É a lembrança mais doce da minha infância: meu vô anarquista, que ditava livros contra todo e qualquer poder constituído -a escriba era eu. Seu alvo maior: o papa, segundo ele, como bom anarquista, fonte de todos os males da humanidade.

Mas como bom italiano também, apesar de toda a ira santa contra a madre Igreja, quando passava muito mal da asma, ele sabia de cor o nome de todos os santos da folhinha, e clamava por todos eles!

O entrevero com minha avó, católica fervorosa e praticante, era constante, mas tudo acabava bem: sabiamente, só brigavam em dialeto, e um não entendia o que o outro dizia.

Vovó enchia a casa de padres: padre José, padre Pelegrino todos tomavam café e faziam refeições lá em casa, que ficava bem ao lado da igreja. Vovô revidava: um dia chegou dizendo que ela pusesse a melhor toalha e a melhor louça na mesa, porque iam receber visitas muito importantes. Assim fez minha avó. E a casa se encheu de operários e trabalhadores braçais que ele arrebanhou pelo caminho. Vovó quase infartou, mas foi uma ceia linda!

Vovô nasceu em San Marco Argentano, era operário mecânico e tinha o maior orgulho do seu ofício e da sua competência nele. Hoje eu sinto falta de ver nas pessoas esse amor ao que faz, agora substituído por uma sede insaciável de sucesso e de exposiçào.

Ele me deu o presente de aniversário mais precioso dos quanto tenho ganho ao longo da vida: são três ursinhos pequenos, cabem numa mão, comprados numa farmácia de Rio Branco: o maiorzinho é dourado, o do meio marrom e o menorzinho amarelo. 

Mas nenhuma lembrança do vô Giuseppe ficaria completa sem a lição que ele repetia sempre para mim e para meu imão Saulo, de modo a nos incutir o ideário anarquista:

ACIMA DA CABEÇA DE UM HOMEM, SÓ O SEU CHAPÉU!

12 comentários:

Anônimo disse...

Muito sábio o seu Giuseppe, Gloria.
Everaldo

Anônimo disse...

Conheci seu avô, era uma grande figura. Morava ali na curva da Gameleira, ao lado da Igreja Nossa Senhora da Conceição. Sua avó fez as flores do casamento da minha mãe.
Você foi longe, Glorinha. Felicidade no seu trabalho, você merece!
A.

Anônimo disse...

Oi Glória,
Muito bacana sua história sobre seu avô. Confesso que não tive muito contato com os meus e sinto falta. Gostei quando vc escreveu: "Hoje eu sinto falta de ver nas pessoas esse amor ao que faz, agora substituído por uma sede insaciável de sucesso e de exposiçào." Verdade, as pessoas querem sucesso e mídia. Trabalho num departamento de pessoal e gosto muito. É o meu laboratório para as histórias que crio e escrevo.
Beijoooos e mais uma vez: seu blog é mto interessante!
Victor Pires
victorjgpires@hotmail.com

Anônimo disse...

Que lindo! Adorei conhecer um pouco sobre o seu avô! Hoje também, me veio uma saudade imensa dos meus (pelo dia dos pais). Pelo que li, vi que seu vô Giusepe foi uma pessoa linda, maravilhosa...

edson disse...

Percebi que acima de tudo era um homem de bom coração,usou o que tinha de melhor em casa para servir ao proximo,so resta lembrar de quanto foi bom a existencia dele na terra.....

Anônimo disse...

Glória, amo seus textos... vc deveria escrever com mais frequência. É um deleite!

Bjos

Renato

Anônimo disse...

Oi Glória

Que lindo o que escreveu sobre seu avô. Deu para saber que se tratava de um homem extraordinário. Onde ele estiver, com certeza deve ter muito orgulho de você e do Saulo.

Anônimo disse...

Super-produção da Tvi

Com o apoio de uma produtora brasileira, começa este mês, no Vale da Paraíba, a segunda etapa de gravação da mini-série portuguesa “Equador”, baseada no best-seller homónimo do jornalista e escritor português Miguel de Sousa Tavares. A mini-série também terá gravações na Índia, São Tomé e Princípe, Londres e obviamente, em Portugal.

http://hasempreumlivro.blogspot.com/2005/02/equador-de-miguel-sousa-tavares.html

Anônimo disse...

Seu avô sabia das coisas! adorei ele!
bjs
Gilda

Anônimo disse...

Sou neto de imigrante italiano e meu avô também era anarquista. Temos vivências bem parecidas, Gloria. Eles tinham muito o que ensinar ao mundo de hoje!
Sucesso na próxima novela

Túlio Marcos

Anônimo disse...

Querida Gloria, linda historia. Meu avô era amazonense, foi seringueiro no interior do Acre e depois veio para Rio Branco, com miha avó e suas tres filhas. Nasci em Rio Branco, em 1957 e morei no bairro da Cadeia Velha. Meu pai mora em Rio Branco até os dias de hoje e minha mae mora em Porto Velho. Vim para o Rio, onde estudei, casei, estudei novamente, trabalhei e me aposentei. Sou portadora de uma doença reumatica cronica pouco conhecida, Lupus Eritematoso Sistemico, a quasl ataca os orgaos, (varios), no meu caso tenho nefropatia grave. É uma disfunçao do sistema imunologico, fabricamos milhoes e milhoes de linfocitos, ficamos com a taxa de globulos brancos bastante alta e correndo o risco de doenças aproveitadoras. O diagnostico é meio complicado pois os sintomas sao parecidos com outras doenças, mas quanto mais cedo tivermos o diagnostico e começarmos o tratamento mais rapido veremos as melhoras. Gostaria muito que este assunto fosse abordado em sua novela, pois seria um meio das pessoas conhecerem a doença, os sintomas e seria bom para os pacientes e o povo em geral. Como acontece com outras doenças, muitos pacientes sao discriminados, isto acontece pela falta de conhecimento, pois lupus nao é contagioso, nao pega, nao é transmissivel, nao é virus, nem bacteria. Tenho lupus e sou uma pessoa alegre e feliz, vivo normalmente, nao vou a praia, pois nao podemos pegar sol, faço o que posso fazer e assim vou vivendo. Caso queira falar comigo, escreva-me. eidinaqueiroz@ig.com.br ou eidinaqueiroz@hotmail.com

Indi(a)screet disse...

Vc teve um avo anarquista e eu tive um bisavo, o Pepico (seu apelido). Creio que o anarquismo foi um movimento forte naquela epoca.
Ele nunca leu a biblia e seu livro favorito era "O Germinal" do Emile Zola.