
Juvenal Antunes foi para o Acre como promotor de Justiça, mas era mesmo um boêmio inveterado. Não se enganem com a foto: o terno nunca foi seu uniforme: passava os dias metido num robe, na porta do hotel Madrid, onde vivia em Rio Branco, bebendo, fazendo versos e proclamando seu amor à Laura, mulher casada que lhe inspirou os mais belos sonetos.
Arredar o pé dali? nem pra receber o ordenado, que lhe chegava por exercícios findos!
Armando Nogueira chegou a conhecê-lo, ainda menino. À caminho do grupo escolar, costumava parar na frente do hotel Madrid para ouvir o poeta, e conta que foi assim que se apaixonou pelas palavras, pela arte da escrita.

Juvenal foi personagem da minissérie Amazônia e de muitos romances que falam do Acre desses tempos. Continua bem vivo na memória dos acreanos, e imortalizado em sua mesa cativa, em frente à Fundação Cultural, no Centro Hisórico de Rio Branco.
Na minissérie Amazônia ele foi interpretado pelo Diogo Vilela, que recitou sua poesia mais conhecida:
ELOGIO DA PREGUIÇA
(A mim mesmo)
"preguiça amamenta muita virtude"
Bendita sejas tu, Preguiça amada,
Que não consentes que eu me ocupe em nada!
Mas queiras tu, Preguiça, ou tu não queiras,
Hei de dizer, em versos, quatro asneiras.
Não permuto por toda a humana ciência
Esta minha honestíssima indolência.
Está, na Bíblia, esta doutrina sã:
-Não te importes com o dia de amanhã.
Para mim, já é grande sacrifício
Ter de engolir o bolo alimentício.
Ó sábios, dai à luz um novo invento:
A nutrição ser feita pelo vento!
Todo trabalho humano, em que se encerra?
Em, na paz, preparar a luta, a guerra!
Dos tratados, e leis, e ordenações,
Zomba a jurisprudência dos canhões!
Juristas, que queimais vossas pestanas,
Tudo que legislais dá em pantanas.
Plantas a terra, lavrador? Trabalhas
Para atiçar o fogo das batalhas!
Cresce o teu filho? É belo? É forte? É loiro?
- Mas uma rês votada ao matadouro!
Pois, se assim é, se os homens são chacais,
Se preferem a guerra à doce paz...
Que arda, depressa , a colossal fogueira
E morra assada, a humanidade inteira!
Não seria melhor que toda gente,
Em vez de trabalhar, fosse indolente?
Não seria melhor viver à sorte,
Se o fim de tudo é sempre o nada, a morte?
Queres riquezas, glórias e poder?
Para que, se amanhã tens de morrer?
Qual mais feliz? O mísero sendeiro,
Sob o chicote e as pragas do cocheiro...
Ou seus antepassados que, selvagens,
Viviam, livremente, nas pastagens?
Do Trabalho por serem tão amigas,
Não sei se são felizes as formigas!
Talvez o sejam mais, vivendo em larvas,
As preguiçosas, pálidas cigarras!
Ó Laura, tu te queixas que eu, farcista,
Ontem faltei, à hora da entrevista,
E, que ingrato, volúvel e traidor,
Troquei o teu amor - por outro amor.
Ou que, receando a fúria marital,
Não quis pular o muro do quintal.
Que me não faças mais essa injustiça,
Se ontem não fui te ver, foi por preguiça.
Mas, Juvenal, estás a trabalhar!
Larga a caneta e vai dormir, sonhar.
(Cismas, 1908)
saiba mais no
Blog do Altino, lendo as
duas crônicas de Armando Nogueira sobre o poeta, o post
A CASA DO POETA JUVENAL ANTUNES, que mostra um vídeo com Ida Rodriguez, dona do hotel Madrid, onde morava o Juvenal, e descreve o encontro comovente entre a hospedeira e o poeta, quando tia Ida, então com 92 anos, olhou para a estátua e disse emocionada: Fala, Juvenal!