
Quem não se lembra do Tadzio, de Morte em Veneza? o adolescente que encarnou o ideal de beleza que apaixona, confunde e leva à morte o músico Aschenbach?
É irônico, mas na vida real, o destruído mesmo pela beleza de Tadzio foi seu intérprete, o menino sueco Bjorn Andrésen, que tinha só 14 anos quando fez o filme que o transformou em objeto de desejo no mundo inteiro.
Quando Visconti o escolheu ele estudava música, morava com o padrasto e tinha, naturalmente, expectativas muito mais modestas na vida. Depois de Morte em Veneza tentou seguir a carreira de ator, lançou-se como cantor, mas não teve nenhum sucesso: havia-se tornado prisioneiro de Tadzio.
Há casos assim, em que a personagem aprisiona o intérprete, torna-se uma camisa de força que o impede de seguir adiante. Bjorn conta que não importava o que ele quizesse mostrar: todas as platéias só esperavam e queriam ver "o menino mais bonito do mundo", que Visconti havia imortalizado.
Estava lendo uma entrevista dele, de 2005, quando completou 50 anos. Bjorn não tem boas lembranças daquela época, muito menos do filme. Está certo de que teria sido mais feliz se não o tivesse feito, e confessa que se sentiu traído por Visconti, porque filmou sem ter nenhuma noção da temática homossexual de Morte em Veneza, que o perturbou a ponto de interferir em sua sexualidade.
Acaba a entrevista com uma frase amarga, mas bem verdadeira:
-Todos procuram o menino mais bonito do mundo e só encontram o menino mais velho do mundo
Aqui está ele, aos 52 anos:
