
Tropa de Elite é ouro no festival de Berlim -e por unanimidade! Mais do que merecido. Porque como filme é irrepreensivel, e porque significa uma quebra nessa espécie de tradição que aprisiona e empobrece o nosso cinema: o compromisso com defender teses sociológicas!
Quando fez o documentário sobre o assalto ao ônibus 174, Padilha foi aplaudido. O filme era mesmo excelente, mas pelo que se viu quando do lançamento de Tropa de Elite, os aplausos de muitos críticos não eram bem para o filme, mas para o ponto de vista: o do assaltante.
Fugindo dos estereótipos, o cineasta não se deteve naquele instante em que o bandido aterrorizava as pessoas que mantinha sequestradas dentro do ônibus. O documentário tratou de resgatar a humanidade daquele indivíduo que, fotografado naquele momento, era apenas um monstro. Como se fabrica alguém capaz de uma monstruosidade dessa? era a pergunta que o documentário buscou responder, reconstituindo a trajetória do bandido.
Ao abordar a violência sob o ponto de vista do policial, dentro desse mesmo modelo, foi o que se viu! a humanidade do capitão Nascimento soou como agressão, como se a polícia não fosse, também, constituída por gente!
Sempre achei que a indignação de muitos contra Tropa de Elite tinha muito mais a ver com esse resgate da humanidade do policial que se corrompe e tortura, do que com a tortura propriamente dita! Porque afinal de contas, o traficante do filme, que mete uma bala na cabeça da menina e queima o rapaz no pneu, não foi citado por nenhum dos acusadores como exemplo de torturador também. Muito menos o bandido do ônibus 174, que torturou durante muitas horas os seus sequestrados, diante das câmeras de TV.
Gostar do Poderoso Chefão pode, gostar de Tony Soprano pode também, mas gostar do capitão Nascimento é heresia????
Parabéns, Padilha! pelo Urso de Ouro e por ter quebrado o tabu!
COMPLEMENTANDO
Há que saber separar o filme da reação da platéia que hoje aplaude todo e qualquer procedimento que pareça capaz de libertar a população do domínio da bandidagem.
Essa reação é fruto da realidade que temos vivido, não do filme. O filme só revela a que ponto chegamos, em consequência da indiferença dos poderes públicos, da ausência de uma política eficaz de combate à violência.
Como dizia Borjalo, culpar o filme é querer culpar a janela pela paisagem!