
Eu não conheço o pai americano nem o pai brasileiro do menino Sean. Não conheci sua mãe, como também não conheço os detalhes do processo onde disputam sua guarda.
Mas é uma questão de bom senso: não adianta, hoje, julgar as condições em que ele acabou ficando de vez no Brasil. O fato é que ele ficou. O fato é que, seja porque motivo for, ele não conhece o pai biológico. E passa por uma fase de adaptação dolorosa: acabou de perder a mãe, o que significa, para qualquer criança do mundo, a perda do referencial mais forte.
De modo que a idéia de retira-lo assim, de sopetão, do ambiente familiar que ele conhece, é de uma violência inaceitável. Seria uma bela demonstração de amor do pai biológico dar a essa criança o tempo que ela necessita para refazer os laços com ele.
Como fez, sabiamente, a mãe do Pedrinho, que foi levado, bebê, de uma maternidade em Brasilia. Essa mãe, que percorreu um verdadeiro calvário, durante 16 anos, em busca do filho desaparecido, não pensou em si mesma quando finalmente o encontrou. Pensou primeiro nos sentimentos do filho, e suportou sua convivência com uma sequestradora costumaz de crianças
(2 comprovadas e outra suspeita), dando ao menino tempo para estabelecer laços com ela, e para conseguir enxerga-la como mãe. Hoje, como todos sabem, Pedrinho está de volta, perfeitamente integrado à familia original.
O caso do menino Sean não pode ser transformado num debate político, numa discussão legalista. nem numa crítica às familias envolvidas. Isso não é novela, é vida real, é o destino de uma criança que está sendo decidido. São os sentimentos de um menino de 8 anos que estão em jogo!