quarta-feira, 21 de novembro de 2007

a face sombria da Internet


Quando comecei a frequentar BBS, lá pelos anos 80, um dos aspectos que logo me chamou a atenção foi a possibilidade que o espaço virtual oferece para promover encontros que seriam impossíveis, ou pelo menos muito improváveis, no mundo real. Dessa observação nasceu a novela EXPLODE CORAÇÃO, que contava a aproximação de uma mocinha da comunidade cigana com um industrial poderoso, candidato a um cargo político.

Essa é uma bela característica da internet: ela embaralha de um jeito novo as personagens da vida real, quebra as barreiras estabelecidas pelas diferenças de classe, de credo, de cor, e impõe outro critério de aproximação entre as pessoas: as afinidades.

Fascinante, sem dúvida. Mas essa capacidade de reunir, com muita rapidez, gente que se identifica, tem seu lado negativo, porque tem servido, também, para formar verdadeiras comunidades de pedófilos, psicopatas, pervertidos e outros tantos mais. Talvez a maior parte dessas pessoas não passasse da fantasia ao ato, sem o estímulo que vem do conjunto de que participa. Mas enquanto parte de uma multidão virtual ensandecida, acaba indo longe.

Eu mesma já fui vítima, no Orkut,  de uma horda de psicopatas, travestidos de protetores de animais, mas não é deles que quero falar hoje, é de uma notícia que acabei de ler no CORREIO DA MANHÃ, jornal de Lisboa: 

a polícia de Aveiro conseguiu evitar um suicídio coletivo que vinha sendo combinado, por adolescentes, através do Orkut. Segundo o jornal, a comunidade (a maioria é de brasileiros), estimulava a auto mutilação,  como preparo para o momento final, esse do suicídio. O menino que possibilitou a intervenção policial tinha apenas 14 anos!

Existem várias comunidades do gênero, insuflando aneurexia, depressão, suicídio, psicopatias e até crimes de todas as espécies. Tudo isso joga outra vez na mesa um debate antigo, que já nos tempos de BBs dividia opiniões -o controle do espaço virtual. 

Como hoje, já estavam lá os que advogavam o mundo virtual fora do alcance das leis que nos regulam, aqueles que acreditavam que ele devia estar submetido às mesmas leis, e ainda um terceiro grupo (minoritário) que defendia a tese do meio termo, ou seja: nem tanto ao mar nem tanto à terra.
 
O que é que você pensa sobre isso? A gente volta a falar do assunto.

Veja a continuidade da notícia sobre o caso dos adolescentes no Correio de hoje:

20 comentários:

Anônimo disse...

Internet tem que ser regulamentada, sim! O espa�o a�reo n�o � regulado? O espa�o mar�timo tamb�m n�o �?! O mundo virtual � uma realidade que permeia as nossas vidas e, como tal, n�o pode ficar fora do alcance do Direito! Ele pode n�o existir como a realidade imediata (aquela em que estamos inseridos quando estamos fora do computador), mas n�o � irreal (como o senso comum pode falaciosamente indicar): � um mundo real, com a diferen�a de que s� pode ser contemplado com a media�o de m�quinas. Ali�s, nas �ltimas d�cadas, muitos fil�sofos t�m se ocupado desse debate!

Anônimo disse...

Internet tem que ser regulamentada, sim! O espaço aéreo no regulado? O espaço maritimo também não é ?! O mundo virtual é uma realidade que permeia as nossas vidas e, como tal, não pode ficar fora do alcance do Direito! Ele pode não existir como a realidade imediata (aquela em que estamos inseridos quando estamos fora do computador), mas não irreal (como o senso comum pode falaciosamente indicar): é um mundo real, com a diferença de que só pode ser contemplado com a mediação de máquinas. Aliás, nas últimas décadas, muitos filósofos tem se ocupado desse debate!

GLORIA PEREZ disse...

corrigi os defeitos que vieram na mensagem do Pedro.
Gloria

Gustavo Krawser disse...

Putz, Gloria! Eu vivo me perguntando como duas pessoas se encontram para cometer atrocidades.

Acredito que a internet ajuda, sim. São máscaras e máscaras, né? Me ajudou bastante a sair do armário, a descobrir que existem muitos outros e que não sou A Aberração da Humanidade.

Marcos Menezes disse...

Gloria,

Eu, pessoalmente, acho muito bom termos liberdade virtual de fazer aquilo que queremos, com quem escolhemos. A rede, pra mim, soh faz bem.

Aos que escolhem caminhos tortuosos (pedofilos/assassinos/loucos-em-geral), complicados serao tambem os seus futuros. Levando isso em consideracao, sou contra qualquer medida que restrinja acesso de usuarios (como pensam em fazer aqui na Inglaterra).

Todos somos livres para fazermos o que temos vontade. E quem faz merda na internet, faz merda na vida real tambem. As vezes tanta que acaba preso, ou condenado pela propria vida.

Com relacao as criancas, acho que o foco sao os pais. Jovens de 14 anos que planejam suicidio coletivo pela internet tem a alta probabilidade de terem pais que soh nao fizeram isso antes porque nao tiveram a ideia.

Esse eh o problema de vivermos em uma sociedade que incentiva a procriacao mesmo entre pessoas que definitivamente nao nasceram para ser pais ou maes.

Eh isso.

Um beijo,
Marcos Menezes

JR Costa disse...

Por mais que eu seja a favor da liberdade também acho que a internet deve ser regulamentada. Assim como qualquer outro meio de comunicação. Em uma pesquisa pela internet em segundos posso encontrar informações sobre qualquer coisa, o que é fantástico. Porém também posso encontrar informações sobre "as melhores maneiras de se matar", "como vomitar o que como sem deixar rastros" entre outras coisas. No orkut mesmo existem comunidades neonazistas, racistas, preconceituosas.
Adorei o blog! Abraços!

Renata Rocha disse...

A internet é uma invenção maravilhosa, não consigo imaginar como seria minha vida sem ela.
Através de um clic, leio notícias e me correspondo com pessoas do mundo inteiro. Inclusive fiz amizades valiosíssimas através da internet, que com certeza de outra forma não teria essa oportunidade.
Mas como já foi falado, nem tudo é positivo e pensando estarem protegidos pelo anonimato as pessoas cometem crimes terríveis. Tenho visto coisas horrorosas, barbaridades que parecem até mentira. Então, com certeza acho que deverá existir uma lei que regulamenta seu uso, com punições e todo o mais, pois muitos crimes são cometidos por aqui pela falta de uma legislação específica.

Marcos Menezes disse...

Gloria,

Acabei de entrar no Orkut pra checar comunidades de pessoas que se cortam quando sofrem. Todos falando com muito orgulho de suas marcas, outros mencionando o fato de estarem indo para o psicologo e afins.

Incrivel. Tem mesmo louco pra absolutamente tudo.

Um beijo,
Marcos

Anônimo disse...

Eu acho, Gloria, que a internet é um espaço público, assim como um bar (que pode ser bem ou nal frequentado). E, nestas condições, deve ter regulamentação. Qual é esta? Não sei bem, os parâmetros são diferenciados. O que não pode acontecer é o usuário achar que o território é livre para qquer tipo de bandalha, crime, invasão.

Beijos!

INTERVALO CULTURAL RIO disse...

Oi, Gloria! Td bem por aí?

Essa questão é delicada. O Orkut foi criado com a finalidade de agregar. Mas o que resulta dessa agregação - sendo bom ou ruim - é reflexo do que acontece lá fora e as câmeras da tv ou as páginas dos jornais não conseguem captar. Agora estamos abrindo nossos olhos, tomando conhecimento de novas realidades chocantes e absurdas (que podem estar acontecendo perto de nós).
Muitos consideram a internet um espaço virtual. Não é verdade. É um espaço real, de pessoas reais, de intenções reais. Nem a forma de contato deve ser considerada "virtual", mas indireta (já que há um intermediário - o computador). E, infelizmente, como em tudo na vida, há também na internet o sal, o doce e o amargo.
Fala-se em regulamentação da internet. A regulamentação, creio, deveria partir dos responsáveis pelos serviços de hospedagem de páginas, dos mediadores de listas de discussão e dos espaços para criação de comunidades (como o Orkut), para que não permitam esse estado de coisas. Se é censura o nome disso eu não sei. Mas fato é que precisa haver um critério de fundamentação moral. Talvez haja culpa em parte das famílias - que negligenciam o que seus filhos fazem (tanto na internet quanto nas ruas). Um exemplo são os "pitboys" que atacam prostitutas na Barra da Tijuca. Alguns pais não sabem da "vida dupla" dos rapazes (enquanto há outros que acham aquilo... hã... "natural").
Qual será a "cura" para esses males, Gloria? Nossa "justiça" paquidérmica, enferma, será capaz de nos responder?
Bjão do Filardi (Intervalo)

Anônimo disse...

Gloria, importante e pertinente esse assunto. "A dor e a delícia" da internet.
Muito deve ser feito a respeito das leis dentro do mundo virtual. Faz -se urgente o controle das comunidades, direitos autorais e artísticos entre outras tantas situações que se encontram em
desordem.
Promover e facilitar afinidades com rapido acesso ao encontro pode ser o maior perigo de um veículo de globalização.
Será esse o preço da democracia virtual? Talvez.
Mas, ainda assim , se não houvesse a internet outros meios seriam encontrados para as mentes doentias se associarem e agirem em conjunto porque o maior perigo da humanidade é justamente ela mesma.Beijos com carinho, Belô Velloso

Unknown disse...

Oi Glória! Boa noite. Eu penso que o básico deve ser mantido, tipo o respeito ao semelhante. Mas se infelizmente, não temos isso nem no mundo real, imagina num mundo onde há a possibilidade do anonimato? Difícil né! Por isso penso que deveriam haver regras que deveriam ser cumpridas. A internet para mim, como alguém disse aí acima, é só diversão. Nunca, graças, tive algum problema. Mas estava lendo o blog da Tina, onde tem um post a respeito disso. Se puder, dê uma olhada nesse absurdo. Essa criança não conseguiu ser salva a tempo.
Beijos e bom final de semana.
http://attu.typepad.com/universo_anarquico/2007/11/megan-meyer---v.html

Denise Arcoverde disse...

Ótima discussão, Glória. O problema é que o computador, ao favorecer o anonimato acaba despertando o que existe de pior nas pessoas, também sou vítima de agressões e fico perplexa com a capacidade das pessoas em serem tão cruéis com outras que elas não conhecem nem nunca viram...

Anônimo disse...

Acho que a Internet (a tecnologia de modo geral) amplifica o que é bom e o que é ruim.

Eu, particularmente, tive sorte: conheci minha mulher, a Gloria Perez, a Ilana Casoy e outras pessoas admiráveis através da rede.

Anônimo disse...

Link direto para a reportagem "Eu corto-me, qual é o problema?":

http://www.correiomanha.pt/noticia.asp?id=266789&idCanal=10

Cássia Valéria disse...

Glória,
Esse tema eu já havia discutido com amigos certa vez, justamente qdo estávamos denunciando alguns pedófilos no orkut.
A Rede é um leque de opções, como a vida, mas com uma diferença, o anonimato dá a sensação do "tudo pode" o que na verdade não deveria ser assim.
Infelizmente há pessoas que não sabem lidar com a liberdade que recebem e é aí que acredito na necessidade do limite.
Mas é um assunto que podemos falar de muitos angulos, no caso de jovens, os pais têm o dever de colocar limites, isso não é invadir a privacidade e sim educar.
Como disse, é realmente um leque gigantesco de opções e dentre algumas, erradas!
Beijos,
Val

Bia Mia disse...

Pessoas como eu que sofrem de Transtorno Bipolar, queremos até morrer um dia ou outro, mas, planejar e levar outros com você... Até para mim isso é absurdo por demais... Será que os pais não veem esses comportamentos, com certeza devem ter tidos "gritos por socorro" dos inconcientes desses garotos, comportamentos estranhos ou inadequados... Hoje em dia está cada vez mais difícil saber o que esperar do ser humano.

MARTA SERRAT disse...

Gloria, vc nao vai acreditar. Estava pesquisando uma solucao para curar a virose da minha planta Comigo Ninguem Pode e encontrei o seu site!!! Estou ate salvando a tela para lhe enviar depois. Parabens pelo blog. Queria tanto poder marcar uma reuniao para tratar de um assunto importantissimo. Nao tenho mais seus contatos, mas estou envolvida em um mega projeto internacional contra a Pedofilia. Tenho apoio de autoridades e importantes icones femininos da politica mundial.

BRASIL DE PAZ. disse...

Ache que deverá haver uma legislação específica para a Internet, o mundo virtual é diferente do real, os abusos devem ser combatidos e punidos com CADEIA para esses que abusam, mas tem muita coisa que "parece mas não é" no mundo virtual, por exemplo:
Tem uns "loucos virtuais" que não são de nada, tem medo da própria sombra e atrás do teclado viram verdadeiros "terroristas", mas não fariam absolutamente nada parecido na vida real.
Quem invade um site de banco e rouba centavos de milhares de contas e acabam roubando muito dinheiro na soma final, "assalta o banco" e a conta bancária, é ladrão, mas não ameaçou ninguém com uma arma, não colocou a vida de alguém diretamente em risco...Entendem? e por aí vai...
O assunto deve ser muito discutido e acho que esta regulamentação deve começar já, ou melhor, já passou da hora...
Paulo Ascenção

Anônimo disse...

Glória,

Acho sim que deva haver um controle nas comunidades do orkut que propagam crimes. Mas, como você mesma lembrou, temos o problema da impunidade, não é? Eu me pergunto se, no Brasil, não precisamos de um pouco mais de rigor - em tudo. A sociedade brasileira é muito permissiva, parece uma criança traquinas. Eu acho que um pouco de rigor não vai fazer mal não, pelo contrário.