sexta-feira, 5 de outubro de 2007
Impressionante o massacre que vem sofrendo o Padilha por ter ousado mostrar a violencia no Rio de Janeiro de um ponto de vista diferente daquele em que habitualmente é mostrada.
O proprio cineasta, no filme anterior, sobre a tragédia do ônibus 174, contou o episódio do ponto de vista do assaltante, apesar do sequestro ter resultado na morte de uma moça inocente. Ninguém achou que ele estava fazendo a apologia do sequestro! e não estava, é claro.
O fato de voltar a falar da violência, agora do ponto de vista da polícia, revela a preocupação com o tema, o empenho em compreender o que está acontecendo conosco: escrever é uma maneira de refletir sobre um assunto. Fazer filmes também.
Ontem, no noticiário da BandNews, ouvi o relato de um morador do Engenho Novo atingido por um tiro disparado por traficantes. Segundo contava, os traficantes costumam disparar a esmo, atingindo moradores. O homem não podia mostrar o rosto, claro, ou seria executado, como todos sabemos. Enquanto a câmera focalizava o buraco feito pela bala em seu corpo, ele, com voz embargada, pedia socorro ao coronel Ubiratan, chefe da polícia aqui no Rio de Janeiro, dizendo -eu sou o seu vizinho coronel, pelo amor de Deus, faça alguma coisa.
Não admira que o filme seja aplaudido por uma platéia que está pedindo socorro. E por plateia entenda-se não só aquela que assistiu o lançamento oficial, mas a que comprou a versão pirata nos camelôs. Trocando em miúdos: gente de todas as classes.
O que deveria estar em discussão é porque essa platéia composta por brasileiros ontem “cordiais”, reage como está reagindo às cenas de tortura praticada por policiais.
Seria um ótimo assunto para um terceiro filme.Tomara que o patrulhamento que Padilha vem sofrendo não o impeça de realiza-lo.
Quem dera que a violencia presente no nosso cotidiano despertasse a mesma exaltação, a mesma indignação que o filme vem despertando.
A impressão que fica é a de que vivemos num país onde a realidade pouco importa, contanto que a ficção esteja politicamente correta!
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
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2 comentários:
Concordo com tudo que vc disse!
Além de atuar sou Diretor também e espero que isso não vá muito longe, senão ficará cada vez mais difícil de fazer arte no Brasil, se bem que mais do que já está...
Ficção e realidade andam em um paralelo que precisa ser aceito com naturalidade e coerência...
Paulo Ascenção.
O problema de Tropa de Elite não está no filme, muito menos no diretor (que é excelente), nem nos atores...
O problema são os nossos valores! O que eu mais vejo, agora, é o "cidadão de bem" clamando pelo Capitão Nascimento! Isso me deixa revoltada, por que não é o torturador Capitão Nascimento que vai dar jeito nessa guerra em que ivemos. Eu quero que o "cidadão de bem" tire a bunda do sofá e a mão do controle remoto, e vá fazer alguma coisa para, de fato, mudar a realidade em que vivemos, principalmente no Rio de Janeiro. Vamos clamar para que o Estado entre nas favelas em forma de educação, saúde, saneamento, em forma de dignidade. Mas o estado só aparece por lá dizendo que tá entrando pra deixar corpo no chão (o Bope é representante do Estado, não?), que faz coisas que assustam o satanás... Ora, veja você! Que futuro é esse que pretendemos? Nunca que a coisa vai andar, se for desta maneira. E cabe a nós, cidadãos, cobrar isso com mais afinco. Não adianta desviar de favela, comprar um apartamento bem longe (se é que existe bem longe). Isso não resolve o problema, a gente tem que entender que o problema não é tão somente de quem mora lá, é de todos nós. Se não tá bom pra todo mundo, não pode estar bem pra ninguém! =/
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